sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

IV Congresso Nacional da UDT - Mensagem de João Viegas Carrascalão, Presidente do Conselho Superior Político da UDT

com a devida autorização, transcrevemos a mensagem de João Carrascalão dirigida aos delegados ao IV Congresso Nacional da UDT que se realizará em Díli, nos dias 27 e 28 de Fevereiro.

"IV Congresso da UDT / 27 e 28 de Fevereiro de 2010

Mensagem de Despedida do Presidente do Conselho Superior Político da UDT


Caros Udetistas,

Não podendo estar presente no IV Congresso do nosso Partido que agora se realiza por me encontrar em missão oficial no estrangeiro ao serviço do nosso país, endereço-vos, por esta via, as minhas mais calorosas saudações, formulando votos de que os trabalhos decorram dentro do espírito democrático como, aliás, é timbre no nosso partido.

Não posso deixar de expressar a minha tristeza por não participar no IV Congresso da UDT, justamente aquele em que vou deixar a Presidência do partido; creio que seria fundamental que a passagem de testemunho para a nova direcção que agora irá ser eleita se fizesse com a minha presença, até pela necessidade de fazer um balanço sobre o tempo em que exerci este dignificante cargo. Mas, estando a exercer um cargo oficial no estrangeiro ao serviço de Timor-Leste, não me é possível, nesta ocasião, deslocar-me a Díli. Assim sendo, há que aceitar os imponderáveis do destino, tanto mais que se aproximam novos desafios políticos e a caminhada da UDT tem de continuar a fazer-se!

Na hora em que deixo o cargo de Presidente do Conselho Superior Político para o qual fui eleito pelos delegados udetistas nos congressos de 1993, 1997 e 2003, quero manifestar a todos os filiados da União Democrática Timorense o meu profundo agradecimento por me terem confiado os destinos do partido; devo dizer-vos que foi uma grande honra e um privilégio ter dirigido e representado a UDT durante 17 anos. Ainda que os tempos em que exerci o cargo não tenham sido fáceis, fi-lo convictamente, com a certeza de que, em todas as circunstâncias, sempre defendi o melhor para a UDT, partido ao qual tenho a honra de pertencer desde 1974. Tenho plena consciência de que nem sempre consegui os melhores resultados. Contudo, também sei que me empenhei o máximo pelo nosso partido.

Não vou fazer um balanço exaustivo dos 17 anos em que exerci o cargo de Presidente da UDT porque seria fastidioso. Mas entendo ser meu dever, em breves palavras, dizer-vos que pugnei com determinação para que a UDT alcançasse os objectivos que nos tínhamos proposto. E, se, se deve contabilizar os revezes sofridos nas duas eleições gerais, impõe-se recordar os momentos altos da UDT de que destaco o Acordo de Cooperação para a defesa intransigente da Autodeterminação e Independência de Timor assinado com a Fretilin em Sydney (Australia), a nossa contribuição, em 1998, determinante para a constituição do CNRT, o Conselho Nacional de Resistência Timorense, e a nossa presença em Nova Iorque aquando das Negociações e Assinatura do Acordo de 5 de Maio de 1999 firmado entre Portugal e a Indonésia sob a égide da ONU. Três marcos fundamentais para a consolidação da Unidade Nacional e para que Timor ascendesse mais depressa do que poderíamos imaginar à independência.

Em 2003, atentos à situação do país e reconhecendo a multiplicidade de dificuldades, constituímos, com outros partidos, a Plataforma Política para a Unidade Nacional, cujo objectivo residia na defesa de um Timor-Leste melhor através da Unidade Nacional. Já depois das últimas eleições gerais, estabelecemos nova parceria com os partidos sem assento no Parlamento através da Liga Democrática Progressiva. Estes dois exemplos demonstram que a UDT pretendia intervir mais na vida política timorense.

A nível interno, procurámos estruturar o partido até à base, para o que estabelecemos os devidos órgãos regionais; apostámos na participação dos jovens convictos de que a força e o voluntarismo da juventude representa uma mais valia para a modernização e solidificação da UDT .

Não será despiciendo realçar que, quer nas crises de 2004, 2006 ou de 2008, a UDT manteve a sua conduta dento dos mais estritos limites de respeito democrático.

Naturalmente que a nossa intervenção política está limitada. Não só porque não conseguimos eleger ninguém para o Parlamento, mas também porque, apesar de nos encontrarmos ainda numa fase de sedimentação e de interiorização da Democracia, os representantes dos partidos eleitos para o Parlamento Nacional, optaram por marginalizar os partidos sem assento parlamentar.

Basta referir que apenas os partidos representados no Parlamento recebem ajuda financeira. Com isto quero dizer-vos que não tem sido fácil manter o partido activo.

A UDT é um partido histórico, de convicções fortes e profundas e não será fácil fazê-lo desaparecer! Mas, se como partido histórico temos lugar cativo na História de Timor-Leste - porque a nossa intervenção nos tempos da Resistência foi determinante para conseguirmos a independência - , num exercício de necessária reflexão, é importante realçar que a nossa sistemática falta de militância dificulta a nossa implementação no país! Precisamos de ser mais audazes se queremos que o nosso partido vingue!

Os tempos que vivemos são de grandes desafios. Timor-Leste atravessa uma fase de evidente crescimento sócio-económico; em paralelo, desenvolvem-se novos vícios, novas perturbações que põem em risco a nossa ainda frágil democracia. É a hora de preparar a UDT para impor no país a sua marca de partido transparente, respeitador da ética e do rigor, contribuindo dessa forma para uma nova imagem de Timor-Leste. Sabemos que é preciso enfrentar esses desafios! Urge, por isso, trabalhar em conjunto, desenvolver esforços, militar efectivamente no partido com o objectivo único de servir o país através do engrandecimento da UDT.

Os caminhos não são fáceis. Por isso a escolha da nova liderança da UDT deve ser cuidada, pensada.
Cabe aos dirigentes eleitos neste Congresso a difícil mas dignificante tarefa de incentivar os udetistas a participarem activamente na vida política do País e do partido. Todos devemos dar as mãos e ajudar-nos.

Na hora de passagem de testemunho para os novos dirigentes, é meu dever prestar a devida homenagem a todos os dirigentes nacionais e regionais, aos conselheiros nacionais, aos jovens da JUDT. É imperativo realçar o esforço de todos quantos, num período reconhecidamente difícil, não baixaram os braços porque, tal como eu, sempre acreditaram que a UDT é um partido que tem uma missão a cumprir em Timor-Leste!
Quero cumprimentar todos quantos trabalharam abnegadamente para o Partido, todos quantos militam e simpatizam com a UDT!

Dirijo uma palavra especial a todos os filiados e simpatizantes que sofreram por este Partido e lutaram pela manutenção do seu nome e do seu programa, sem medo, com risco da própria vida; curvo-me perante a memória de todos quantos, desde 1975, deram a vida pela UDT. E recordo aqueles que, já nos dias da nossa independência, serviram com reconhecida dedicação Timor-Leste.
Sinto inegável orgulho dos quadros udetistas que - sendo a evidente prova da qualidade dos nossos quadros e de que a UDT está viva! -servem com brilhantismo Timor-Leste através do seu trabalho em alguns ministérios deste Governo.

Aos senhores congressistas vindos dos 13 distritos de Timor-Leste, formulo votos de que desenvolvam um trabalho produtivo, debatendo com profundidade os temas propostos e, democraticamente, participem na escolha da nova Direcção da UDT. Peço-vos, a todos, respeito mútuo, e que, ganhadores ou vencidos, se unam em redor da Direcção Nacional. A unidade da UDT é imprescindível!

À nova Direcção Nacional a ser eleita neste Congresso Nacional desejo, naturalmente, as maiores felicidades!

Estou consciente de que, em todos estes anos, me esforcei o melhor que sabia, o máximo que podia pelo partido do qual não sou fundador mas que sinto como fazendo parte de mim. Fui, sou e serei sempre orgulhosamente udetista! Por isso vos posso dizer, caros udetistas, que deixo a liderança da UDT com a consciência tranquila, com a satisfação do dever cumprido.

É com profunda emoção que vos deixo uma palavra de esperança, de confiança e de solidariedade. Estou certo de que tudo farão para engrandecer a União Democrática Timorense fazendo do nosso partido o partido do futuro de Timor-Leste!
Disso tenho a absoluta certeza. Que as abundantes lágrimas que escorreram e escorrem pelas vossas e minhas curtidas e sofridas faces, e a dor e saudade dos nossos heróis e mártires, sejam o berço e canteiro onde medrará esta certeza.

Na hora do Adeus, quero finalmente pedir-vos que sejais firmes, leais, determinados e corajosos, mas também, sensíveis, ponderados, esclarecidos, humanos, e acima de tudo Timorenses do Coração, para manterem a nossa UDT no mais alto patamar da GLÓRIA e HONRA da nossa Pátria TIMOR LESTE.

Até sempre, companheiros!

VIVA a UDT!

Díli, 22 de Fevereiro de 2010

João Viegas Carrascalão

Presidente do Conselho Superior Político da UDT"

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