quarta-feira, 21 de maio de 2008

Injustamente esquecidos


A independência de Timor é fruto do sacrifício de muitos timorenses, de todos os quadrantes políticos. Pelo menos, é o que os políticos dizem quando pretendem propagandear ao Mundo a unidade conseguida pelos timorenses durante mais de uma vintena de anos na luta travada com os indonésios.

Antes ainda da entrada dos invasores indonésios, Timor encontrava-se a ferro e fogo, numa luta fratricida que dizimou muitos milhares de timorenses cujo único crime consistiu na liberdade de pensamento que defendiam ser um direito humano inalienável. Não o pensaram assim os fautores da independência unilateral de 28 de Novembro de 1975.

Milhares de timorenses - por haverem cometido o crime de querer um Timor independente diferente do que o que pretendiam a FRETILIN e o Poder português saído da Revolução de Vinte e Cinco de Abril de 1974 – foram barbaramente assassinados por outros timorenses acobertados pelo revolucionarismo de cariz esquerdista.

Pensava eu que passados mais de trinta anos sobre o ano nefasto de 1975, os líderes timorenses que hoje ocupam cargos políticos – após anos do que eu imaginava ser de profunda interiorização da fundamental unidade nacional feita à custa de sangue, suor e lágrima de todo o povo, ao qual pertencem os militantes de outros partidos timorenses para além da FRETILIN - tivessem (finalmente!) concluído que a independência de Timor se deve a todos os timorenses e não só a determinado partido e a algumas personalidades políticas desse partido.

Julgava eu, animado do fervor patriótico que a todos os timorenses anima em dias de comemoração da independência a 20 de Maio– data a que pomposamente se denomina de restauração da independência -, que a liderança timorense teria coragem suficiente para incluir, nos seus discursos oficiais, na imposição de medalhas, de condecorações, da saudação aos mártires da Pátria, os mártires de outros partidos que pereceram às mãos da FRETILIN, antes ainda da invasão oficial pela Indonésia.

Acredito também que os sobreviventes das masmorras de Aileu se lembram do sofrimento e dos terrores infligidos pelos revolucionários. Mas, se alguns prisioneiros se salvaram (alguns deles devido ao gesto de clemência de uns muito poucos revolucionários condoídos da sua má sorte) igual sorte não coube a tantos outros que jazem em valas que guardam milhares de restos mortais de militantes da UDT, da APODETI e do KOTA, quantos deles enterrados vivos!

Tem sido vã a esperança de que os líderes timorenses se imbuam da generosidade de reconhecer que, para além dos mortos às mãos da Indonésia, timorenses houve – e foram milhares! – que sucumbiram às mãos dos revolucionários da FRETILIN.

E assim é que, ano após ano, em cada 20 de Maio da comemoração da independência, se prestam loas, se curvam, se referem os nomes de militantes da FRETILIN e se esquece de que timorenses houve que mataram outros timorenses cujo único crime foi pensar um Timor livre mas diferente.

E é por isso também que, ano após ano, vou perdendo a crença de que a unidade nacional é real, é interiorizada, é sentida.

Assim será enquanto permanecerem propositadamente esquecidos nomes dos que foram barbaramente assassinados pela FRETILIN, numa tentativa da liderança de falsear a História branqueando aqueles que ordenaram as execuções.

Mas, se a liderança timorense, se os detentores do Poder político de hoje continuam a ignorar o nosso contributo para a independência de Timor, se todos teimam em esquecer os nossos mortos, gritemos a nossa revolta ao Mundo – apesar do esquecimento do Senhor Presidente da República Ramos Horta num gesto consequente de gesto igualmente revelador da vontade do seu antecessor Xanana Gusmão de esquecer que há outros heróis em Timor - dizendo que a FRETILIN assassinou

Vasco Senanes,
Fernando Luz,
Agapito Mariz,
Coronel Lourenço,
Casimiro,
Maggiolo Gouveia,
António Araújo
Nélio Oliveira,
César Mouzinho,
José Oliveira,
Luís Oliveira,
Serafim dos Santos,
Guilherme Exposto dos Santos,
Adão Exposto,
Águedo Inácio,
Rogério Inácio

Não quero esquecer também os irmãos Maia, os jovens Jerónimo (16 anos) e Rui (14 anos), que foram ambos mortos em Same!

Muitos outros nomes ficaram por ser aqui referidos mas, para ilustrar, a barbárie de 1975, estes exemplos são bastantes!

Se restarem dúvidas sobre a verdade histórica, há sobreviventes que vivem em Timor, em Portugal e na Austrália que ainda não conseguiram esquecer os maus tratos, poderão prestar esclarecimentos e apontar os nomes e as caras dos seus algozes!

Assisti à condecoração de Mari Alkatiri e de Ramos Horta e pensei que também os líderes da UDT que lutaram por Timor seriam condecorados. Mas não. Deles não consta a lista de heróis do então Presidente Xanana Gusmão. Nem sequer do actual Presidente.

Considero de elementar justiça atribuir a condecoração pelos trabalhos prestados durante os anos da Resistência na diáspora a João Carrascalão, Domingos Oliveira, António Nascimento, Lúcio Encarnação, entre tantos outros.

Ou que, Manuel Carrascalão, activista e fundador do Movimento para a Unidade e Reconciliação do Povo de Timor-Leste (MURPTL) defensor acérrimo do Referendo em Timor, fosse reconhecido como personalidade histórica e por isso o condecorassem.

Mas, ano após ano, as condecorações, os cumprimentos e as homenagens limitam-se a personalidades da área da FRETILIN, contribuindo para o descrédito da vontade de construir uma Nação onde todos os timorenses tenham lugar e vejam reconhecidos os seus méritos, o seu trabalho, o seu esforço.

Não compreendo como nunca se nomeia Francisco Gonçalves, com o nome de guerra Mali Iku – operador de transmissão, o único que, na Ponta Leste, decifrava os códigos políticos do comissário político Juvenal Inácio, Será Kei; ou Rui Gonçalves, que tinha o nome de guerra de Ximangano Mac Mahon e foi um prisioneiro político de Aileu que, depois da invasão, pelas suas qualidades de liderança, ascendeu a comandante da guerrilha e Delegado Político.

Se o Senhor Presidente da República actual, se o Presidente da República anterior os esqueceram, tal como os esqueceram os deputados ao Parlamento Nacional, nós não os esquecerenos!

Se outros esquecem, cabe-nos a nós, militantes da UDT, lutar - sempre! -, para que o Mundo não esqueça que outros heróis existem para além dos que anualmente são propagandeados pelos actuais líderes timorenses e pela própria FRETILIN.

Se a esperança deve prevalecer, então direi que continuo à espera que Timor seja um dia a Pátria que entre os seus braços vai acolher todos os seus filhos independentemente da sua raça, credo ou convicção política! E que então ninguém mais se sentirá injustiçado, marginalizado, ignorado, numa desnecessária demonstração de desprezo.

Hélder Encarnação

9 comentários:

UDT disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

A gente não sabe quando mas talvez um dia mais tarde eles vão se lembrar quem eram os nossos heróis que foram mortos em 1975. Meu primo também foi assassinado lá em Aileu.

Unknown disse...

Parabéns ao autor do artigo, meu companheiro Hélder!
Parabéns pela clarividência e pela coragem das suas palavras. Já basta de tanta injustiça e de tanto sarcasmo do Poder político em Timor-Leste! Talvez a culpa que pesa nas suas consciências pela sua responsabilidade no passado faça toldar as mentes destes políticos do poder de agora.
Tudo se há-de esclarecer um dia!
Dim Massa

JoaoLimaTavares disse...

Parabéns companheiro Hélder.

Excelente texto.

Quem esquece o passado está condenado a repeti-lo.

Como referiu o companheiro Dim Massa, a história se encarregará de repôr a verdade dos factos.

Abraço forte e continua a luta.

João Lima Tavares

pordentro disse...

Longe mas para que não esqueçam que muita gente anónima, em silêncio perante as desagruras, continuam, persistem, insistem e sobretudo não desistem para que Timor-Leste tenha a Paz que merece desde Sempre!

Cabe a TODOS atenuar essa dor. A vossa, a daqueles que pensam de maneira diferente... A TODOS e a TODAS AS PESSOAS DE BOA VONTADE!

Acredito não que justiça se faça pois o peso das diferenças tão acentuado magoa... mas que vocês TODOS consigam encontrar essa Paz, esse descanso, não me levem a mal - mas ESSE PERDOAR!

A História fará a justiça que se apenas a Justiça permanecesse não restaria ninguém...

As jovens gerações de Timor-Leste não podem trilhar os caminhos da desavença... e a História de Timor-Leste far-se-á.

Abraço

Celso Oliveira disse...

Helder, parabens pelo seu artigo e pela sua coragem de dizer a verdade. Gostei muito.


A teimosia dum político
celso oliveira*

A minha mulher acendeu uma vela no seu quarto, ajoelhou-se em frente do seu oratório e começou a rezar, enquanto eu estava fora da casa. Quando cheguei, entrei no nosso quarto, onde apenas se sentia o cheiro da vela. Perguntei-lhe o que é que estava a fazer. Respondeu-me, com lágrimas nos olhos: “O nosso Presidente da República foi baleado”.
Eu não acredito, disse-lhe eu, e fui ligar a televisão, na nossa sala de visitas.
Acompanhei as notícias tintin por tintin. Assim se diz. Ocorreram-me algumas perguntas ridículas. Será que a atitude da minha mulher era um acto espontâneo? Será que o povo estava em marcha, da mesma maneira, “em silêncio dentro da sua oração” para pedir a paz para Timor Leste, a boa saúde do seu Presidente da República, a firmeza do seu governo, para resolver os problemas do país?
Eu devia escrever assim: os políticos estão a matar o povo timorense, lentamente. Mas quem sou eu, para escrever essas coisas sobre a política timorense? Será que a minha voz vai chegar até ao parlamento nacional, palácio dos políticos? Eu não quero saber quem sou. Afinal, nas vidas dos políticos timorenses, eu apenas represento uma voz, a dum filho do crocodilo.

“Em 1975 eu pratiquei um crime de assassínio. Não fui o autor principal. Mas mandei matar os prisioneiros da guerra. Coisas que aconteceram 30 e tal anos atrás. Naquela altura, eu não tinha noção sobre a teoria da evolução humana. Finalmente, os filhos dos prisioneiros da guerra cresceram e tornaram-se donos da sua própria terra. Como eu também fui e sou dono da minha própria terra. 30 e tal anos atrás, eu era alguém, era superior. 30 e tal anos atrás, o povo era analfabeto, não havia televisão, internet, jornais, computador, etc. Por isso, que eu pensava ser fácil matar porque não ia haver provas contra mim. Agora eu lembro os nomes dos prissioneiros da guerra. Eram Luis, Jose, Fernando, Casimiro, entre outros. Filhos de Timor. Naquela altura com muita ambicão e falta da maturidade política, eu gritava os nomes como Luis...Luis... sai da casa. O Luis morreu, deixou mulher e filhos.
30 e tal anos já passaram. Hoje em dia, o povo tem tudo. Internet, computador, televisão, etc. Mas, muitas vezes, por minha vaidade pessoal, arrogância política, interesse pessoal em nome do partido e do povo, eu continuo a mandar matar pessoas inocentes, que não são da minha cor ou da minha convicção. Tudo isso, por caso da política.
Após 30 e tal anos, eu devia mudar a minha mentalidade, devia fazer um acto de contrição, devia criar paz, justiça e reconciliação na minha pátria TIMOR. Eu devia pensar: se os meus filhos não têm acesso à escola ou aos hospitais, eu devia acompanhá-los ou ensiná-los”.
(Esta é, apenas, uma crítica ao meu tio, que foi eleito como ministo, mas foi preso por ter distribuído armas aos civis para se matarem uns aos outros. Este meu tio, em 1975, praticou crimes de assassínio. Em 2006 praticou outra crime de assassínio. Em 2008 assinou outra plataforma em nome do povo. O povo inocente vai ser condenado e vive na prissao de Becora, enquanto os políticos serão livre)

Na verdade, o que eu estava a pensar, era verdade: os políticos timorenses estão a matar povo timorense, lentamente.

O nosso oratório era um oratório pequeno. Feito com sândalo. Foi uma oferta do um amigo camponês. Em cima do oratório, havia uma estátua de Nossa Senhora de Fátima, de Santo António, da Sagrada Família, do Sagrado Coração de Jesus, uma bíblia, um ramo de flores e uma vela. Na nossa tradição, em qualquer casa dos timorenses há sempre um oratório, lugar sagrado para unir e rezar.

*poeta timorense, vive em Londres (London)

fcporto disse...

Parabens Helder bem escrito e esta a ser "falar/escrever" muito sobre o teu artigo.

Meus caros a internet a uma das melhores maneiras para educar todos sobre a verdadeira historia de 1975....espero que os nossos "velhos" Udetistas aproveitam este meio para contar a verdadeira historia de 1975.

Jovens UDTistas como eu e muito outros Jovens Timoreses precisam de saber a verdadeira historia...

Celso Oliveira disse...

A Teimosia dum Político II
Por: Celso Oliveira*

I

Fui criado numa família católica, numa aldeia pequena, no centro de Timor. Cresci naturamente na minha aldeia pequena e bonita, tornei-me jovem e entrei nas tropas. Em 1975, quando começou a guerra em Timor, eu fui um dos fundadores das forças armadas de Timor. Depois de ter formado as forças armadas de Timor, eu fugi para estrangeiro. Deixei Timor Leste em guerra civil. As milícias que eu organizei e treinei, mataram muita gente inocente no centro de Timor, sobretudo em Aileu e Same.
No princípio, no estrangeiro, enquanto Timor Leste estava em guerra contra a Indonésia, eu procurava apoio para ajudar Timor. Fui nomeado como ministro da defesa de Timor. Fui até à China, Rússia, Cuba, Angola, entre outros países de esquerda, para pedir apoio financeiro e armamento para ajudar Timor. Em geral, eu tive uma boa vida, porque consegui ter muitos apoios financeiros.
A partir de meados de 1980, eu tive um problema com a direcção do meu partido, pelo que fui demitido por essa direcção, no estrangeiro. Senti-me frustrado e traído. Cansei-me de fazer política a favor de Timor independente.
Depois do massacre de Santa Cruz em 1991, procurei então o meu velho amigo e organizámos uma associação com o objectivo de manter amizade com a Indonésia. Conseguimos. Esse grupo da associação de amizade com a Indonésia visitou esse país, por duas vezes.
Desde 1991, deixei por completo de fazer campanha política a favor de Timor independente. Nunca participei nos encontros políticos do meu partido. Casei com uma mulher timorense e concentrei-me na minha vida familiar.

II

Regressei a Timor Leste após 1999. Deixei a minha mulher e filhos abandonados no estrangeiro. Procurei apoio político na base do meu partido para poder candidatar-me ao futuro governo. O povo de Timor, cuja maioria era analfabeta, olhou para mim como se fosse um grande líder dentro do meu partido. E, com esta realidade, eu aproveitei-me para organizar e manipular uma nova associação, chamada veteranos. O meu objectivo, depois de ter organizado a associação veterana, era usar esta associação como base da minha candidatura para o futuro cargo do governo. E fui bem sucedido.
Em 2002, após a independência de Timor em 20 de Maio, fui chamado e eleito como ministro. A partir daí, senti-me muito orgulhoso. Casei pela segunda vez com segunda mulher mais nova, de corpo perfeito (sexy), para ter filhos. Não queria saber se a Igreja Católica de Timor ia aceitar ou não a minha decisão. A associação que eu criei, chamada veterana, deixou por completo de ser da minha responsabilidade. Não queria saber se a sociedade civil ia avaliar o meu modo de viver ou não. O que é certo, é que eu tenho poder absoluto no meu Timor independente. O meu partido está no governo. A minha gente está no poder.
Em 2006, aconteceu uma crise política militar em Timor. Eu recebi ordens e mandei distribuir armas à população civil. Os meus objectivos eram matar todos os meus adversários políticos e controlar todo o território de Timor. Foi assim que eu fiz em 1975, quando eu era superior e mandei capturar pessoas inocentes, bati nelas, meti-as nas celas em QG e, finalmente, dei ordem para as matar.

III

Afinal, o que eu estava a pensar, era muitíssimo errado. O povo de Timor não era estúpido. Eu era e sou estúpido. Eu pensava que o povo ainda continuava a manter a mentalidade antiga, e que era fácil manipulá-lo. Mas já não era e não é assim. O povo de Timor, depois de tantos anos de luta, sofreu e morreu. Agora mudou a sua mentalidade. Eu devia pensar que a guerra e a violência em Timor Leste eram e são protagonizadas pelos políticos. Eu devia pensar que depois de tantos anos de sofrimento, BASTA de manipular e explorar o povo de Timor.
Ora bem. Fui condenado por ter distribuído armas aos civis. Fui condenado a cerca de 7 anos de prisão. Mas fui libertado pela política da minha geração. Graça a Deus. Para mim, o povo inocente é o que vive nas prisões de Becora e Gleno.
Eu sou político, empresário, e se a justiça não funcionar bem, eu vou passar férias ao estrangeiro!

* Poeta timorense, vive em Londres, coloborador Forum Haksesuk!

Celso Oliveira disse...

O homem que mandou matar o Major José estava no primeiro governo*
(O Major José era o primo do homem de quem eu vou falar)

I
Esta história não é uma história inventada. Não é ficção. Também não é um trabalho académico. Mas, é real. Quase todas as histórias de assassinatos em Timor Leste são semelhantes, têm motivos políticos e originam os mesmos sentimentos. De 1975, 1999 até 2006, os timorenses foram manipulados por razões políticas para se matarem uns aos outros. O arrependimento vem depois. Em 1975, uns eram da UDT, outros da FRETILIN. Em 1999, uns eram independentistas, outros integracionistas. Em 2006, "Quem fala e não faz, o povo deu lição com a mudança política", disse, José Luís Guterres, vice primeiro ministro da AMP no encontro com jovens e estudantes timorenses na cidade de Coimbra. O que certo é que os DOIS LADOS "eram e são" timorenses.
Uma vez, cruzei-me numa estação de metro em Lisboa, Portugal, com o homem que em 1975 era tropa e que deu ordem para os seus soldados ou os seus milicianos matarem mais de 200 prisioneiros de guerra, em quatro localidades, numa aldeia no centro de Timor, chamada Aileu. Alguns dos prisioneiros eram jovens, chefes da família, etc...Entre os soldados ou milicianos e os prisioneiros da guerra, havia irmãos ou familiares uns dos outros.
O homem de quem falo, era alto, de cabelo ondulado, moreno e tinha fugido da guerra civil em Timor Leste em 1975, para Portugal.
O homem confessou todos os pecados que fez durante a guerra civil em 1975 e prometeu que não ia voltar para cometer os mesmos erros do passado e não ia ocupar qualquer posição política num Timor independente. “Se Timor for independente, eu preferia viver dum modo simples, para puder recuperar moralmente dos pecados que cometi, durante a guerra civil em 1975”, disse o homem.

II
A minha mesa de secretária está cheia de papeladas de novos projectos para a construção de Timor. Muitas vezes o meu chefe de gabinete mandou alguns documentos assinados para gráfico sem eu tinha conhecimento. Tenho um bom laptop, oferta dum amigo, uma boa impressora de marca cânon, um copo de água fria e uma fotografia da minha dama. Na parede, há duas fotografias de dois líderes timorenses que eu admiro: José Ramos Horta e Xanana Gusmão. Os dois são líderes que colocam o interesse nacional acima do interesse pessoal e do partido.
Todos os dias leio os jornais de Timor, sobretudo o STL (Suara Timor Lorosa'e) e o Timor Post. Uma vez, fiquei surpreendido quando me deparei com as notícias sobre o homem que cometeu erros em 1975. Está sob investigação da polícia timorense, por ter distribuído armas aos civis.
De certeza, que um homem com este procedimento, não merece o meu respeito.

III
Quando o homem estava no governo, sentia-se muito orgulhoso. O mundo, o poder eram dele. Ele fez tudo e ninguém levantou a voz contra a sua decisão. Um dia, ele mandou a polícia capturar um grande líder da resistência das Forças Armadas, chamado irmão Lbo'ot. Ele não devia fazer isso, porque ele não era polícia nem juiz para poder capturar pessoas. Mas ele fê-lo, por ódio e vingança política.
Em 2002, conseguiu ter um bom casarão em frente da praia de Farol. Tinha 2 carros de luxo, estacionados na sua nova garagem. Casou pela segunda vez com outra mulher. A sua vida era muito feliz.
“Era uma coisa, agora é outra coisa. Antigamente, os meus amigos eram pessoas simples, hoje em dia os meus amigos são empresários e grandes políticos de Timor ”, disse o homem.

IV
O comunismo foi rejeitado na Indonésia em 1965 numa operação chamada G 30 S ou Movimento 30 de Setembro. Em Timor Leste, nos anos de 1974 e 75, o comunismo foi introduzido por comunistas portugueses, mais propriamente oficiais milicianos esquerdistas e por estudantes universitários timorenses idos de Lisboa após 25 de Abril. Por isso, provocou a entrada da Indonesia "militarmente" em Timor Leste em 07 de Dezembro de 1975. No mesmo ano foram mortos mais de 200 prisioneiros da guerra civil timorenses em Aileu, Maubisse e Same . Os prisioneiros da guerra civil que morreram em 1975 em Aileu, Maubisse e Same devem-ser recordados, respeitados e honrados, porque eles eram anticomunistas. Tenho consciência para dizer que a independência de Timor foi alcançada não apenas por Fretilin mas por todos filhos timorenses, sejam eles filhos da FRETILIN, da UDT ou da APODETTI.
Segundo Xanana Gusmão no seu discurso ao povo e aos líderes e membros da Fretilin, dia 22 de Julho de 2006: - para limparem o nome de todos os que a FRETILIN assassinou porque os considerava traidores, mas que não eram traidores, apenas não aceitavam a ideologia marxista-leninista, e para que as suas famílias possam estar descansadas. - que a FRETILIN pedisse desculpa ao Povo, sobretudo aos familiares das vítimas.

Uma boa leitura.

* Celso Oliveira, poeta timorense vive em Londres.
publicada por FORUM HAKSESUK @ 3:28 PM