sábado, 11 de agosto de 2007

O Movimento de Onze de Agosto de 1975


Hoje, como há 33 anos, a UDT procura a solução dos problemas, pugna pela defesa de todos os timorenses independentemente da raça, cor, religião, ideologia e direitos civis e políticos, aceita e observa a Declaração Universal dos Direitos do Homem, reconhecendo-a como documento do mais alto valor e significado para a Humanidade.

Na UDT defende-se a paz, a igualdade e a liberdade do Povo porque se entende que “todas as pessoas nascem livres e iguais na dignidade da pessoa humana com iguais direitos e deveres e nada deve coarctar a sua liberdade senão a lei, elaborada de acordo com os mais íntimos interesses éticos e espirituais do Povo Timorense”.

O Homem Timorense merece que se defenda o seu “desenvolvimento integral” e, sendo seu entendimento que “o Povo é a pedra de toque, pois o que define uma Nação é o Povo e a sua Cultura”, a UDT empenha-se na “promoção do desenvolvimento social, económico, cultural e político” desse povo, batalhando pelos direitos dos trabalhadores e pela construção de uma sociedade livre, solidária, democrática e humana.

São princípios da UDT. São as linhas que desde 1974 norteiam o mais antigo partido timorense! E, contudo, passados 33 anos a mensagem continua actual! E, contudo, hoje, como há 33 anos a intolerância continua a fazer parte do comportamento de alguns timorenses. Infelizmente, hoje, passados cinco anos sobre a independência, Timor vive um dos períodos mais tristes da sua curta história enquanto país! Os incidentes que se sucedem em vários distritos, transportam-nos para um outro tempo de intolerância que gostaríamos de ver arredado do nosso querido Timor!

Nos tempos idos de 1975, os ventos não estavam de feição para o surgimento de movimentos moderados e a UDT foi marginalizada pelo novo Governo da província de Timor, apostado em implementar tão depressa quanto pudesse as novas linhas de orientação emanadas pelo governo português, contribuindo para aquilo a que mais tarde, de forma brilhante e sarcástica o historiador António José Saraiva apelidou lucidamente de “debandada de pé descalço”.

O descontentamento com o rumo da política, particularmente com a intervenção de alguns militares portugueses - mais interessados em fazer vingar as suas novíssimas teorias revolucionárias de Esquerda do que em bem descolonizar Timor - origina uma onda de revolta popular e, em 1975, a UDT, insurge-se contra o estado das coisas protagonizando o Movimento de Onze de Agosto, erradamente apelidado de “Golpe”.

No dia em que passa mais uma no sobre a data em que a UDT se levantou para salvar o país, é nosso dever recordarmos todos os udetistas que tombaram pela UDT, pela defesa das suas convicções e pelo bem de Timor!

Assinalamos o 32º aniversário do Movimento de Onze de Agosto com a trasncrição do artigo publicado no semanário Lia Foun - sob o título" A História não se apaga: Foi há trinta anos o Movimento de Onze de Agosto" - aquando dos 30 anos desta data histórica, recorrendo apenas a necessária actualização da data da ocorrência.


"Quando, há trinta e dois anos, a UDT levou a cabo o Movimento de 11 de Agosto não imaginava que a sua tentativa de corrigir a tortuosa descolonização do então Timor português tivesse um desfecho tão sangrento.
Numa altura em que se fala até à exaustão de reconciliação, mesmo sabendo que apenas diz respeito aos desmandos dos ocupantes indonésios - e quando os mais altos dignitários do país apostam nela como caminho para se chegar à verdade -, quando se aposta na omissão da justiça ou no adiamento da sua execução, é urgente falar-se da verdade, mau grado todos saibamos da incomodidade dessa verdade.
“Sobre o conflito político de 1974-1975, cabe a cada partido político escrever a sua história, preenchendo-se a lacuna que se sente para uma análise conscienciosa na viragem política verificada em Timor, a partir do 11 de Agosto de 1975, com a implementação da guerra civil, aproveitada pela Indonésia para invadir e anexar Timor, desfraldando-se os crimes que se registaram”, diz Lúcio Encarnação.
Para o então Administrador do Concelho de Ainaro, “como timorense e vítima dessa guerra civil, quero apenas historiar o que sofri como dito prisioneiro político nas masmorras criadas pela FRETILIN, para apuramento das responsabilidades cabidas aos líderes políticos virados criminosos de guerra com garras de verdadeiros assassinos”.
Os testemunhos das vítimas de 1975 são dramáticos, deles transparecendo as mágoas pelo sofrimento que lhes foi infligido esmagando o direito humano de defesa de convicções políticas individuais.
A crueldade desse confronto fratricida ultrapassou o humanamente expectável, ainda nada está totalmente esquecido, mas, considerando que a Nação deve ser construída em paz e pela paz, tem-se feito um esforço sobre-humano para esquecer as mágoas, mesmo que do outro lado nem sempre tenha prevalecido a tolerância e nem sempre haja a coragem suficiente para o indispensável reconhecimento do erro de 1975.
Quando em Dezembro de 2003, na sessão do CAVR sobre os acontecimentos de 1975, o actual presidente da UDT e operacional do Movimento de 11 de Agosto, João Viegas Carrascalão, perante o lavar de mãos e a desresponsabilização de muitos intervenientes, entendeu, por bem, chamar a si a responsabilidade do que então se passara nesse ano longínquo, fez-se um apelo à verdade e os dirigentes da FRETILIN presentes reconheceram a sua quota parte de responsabilidade nesse conflito.
Impunha-se que Portugal compreendesse como uma inevitabilidade a independência das suas colónias e a preparasse gradual, segura e cuidadosamente e nunca desastrada nem descuidadamente.
Contudo, com o advento do 25 de Abril de 1974, os militares progressistas do Movimento das Forças Armadas que acompanhavam o novo governador, brigadeiro Lemos Pires, animados pelo espírito novo da Revolução, tentavam implementar medidas desajustadas sem nenhuma preocupação pela especificidade timorense, na ânsia de terminar com o denominado império ultramarino resultante do salazarista “Portugal do Minho a Timor”.
Contaram para isso com os estudantes universitários entretanto regressados da “Metrópole”.
Do outro lado, estava a conservadora sociedade timorense.
Se, por um lado, os tempos eram de paixão revolucionária e os voluntariosos líderes políticos da altura estavam na flor da idade e relativizaram as repercussões das suas atitudes, por outro lado, a pressa na descolonização denominada pelo historiador António José Saraiva como a “debandada do pé descalço” semeou o veneno que haveria de originar o Onze de Agosto de 1975.
Persiste o mal entendido sobre a natureza deste “movimento”; há quem force a história falando de “golpe de estado”. Só que não houve nenhuma tentativa de tomar o Poder. Aliás, citando João Carrascalão, “nunca poderia ter havido um golpe que só existe quando há uma acção contra o Poder instituído e nunca esteve nos objectivos da UDT nenhuma tentativa de tomada do “Poder instituído”.
Não quer dizer que o Poder não tenha sido oferecido de bandeja à UDT, para o que citamos Domingos Oliveira, um dos fundadores históricos do partido e seu Secretário-Geral até 2003, que refere que “a situação deteriorou-se e o governo português fez um ultimato à UDT no sentido de assumir o governo e todas as responsabilidades da nova situação ou desarmar-se” tendo a UDT recusado “esclarecendo mais uma vez que o Movimento englobava todos os partidos políticos e nem a independência imediata e nem a formação de um governo timorense eram o seu objectivo”.
Pretendia-se apenas que “os pára-quedistas tomassem conta do paiol e destacamento militar, a Polícia Militar passasse a controlar a cidade, o Governador assumisse as responsabilidades da cimeira de Macau e que, se isto acontecesse não só ela (a UDT), mas todo o Movimento desarmariam e entregariam o seu armamento à Polícia Militar”.
Parafraseando alguém, o Movimento de 11 de Agosto foi “uma reacção lógica ao rumo dado pela Descolonização e uma tentativa de travar o fim para o qual os ambiciosos, irresponsáveis ou os mal intencionados governantes empurravam Timor” e surgiu devido aos desmandos de quem julgava ser possível a independência numa orgia de revolucionarismo radical, com a implementação da prática das “zonas libertadas” sob controlo da FRETILIN onde, entre outros factos, se prendia e se cobravam tributos.
Soa a exagero a busca de muitos na sistemática tentativa de responsabilização da UDT na invasão indonésia, atribuindo-lhe uma falsa influência junto das grandes potências quando, na prática e no terreno, são os mesmos que diminuem e lhe retiram qualquer representatividade. Conhecendo a força dos EUA no Mundo é fácil perceber-se que não era necessária a intromissão de ninguém para o aval à invasão indonésia.
Domingos Oliveira, no depoimento ao CAVR (Comissão de Acolhimento Verdade e Reconciliação) considera que “As relações cada vez mais tensas entre a UDT e a FRETILIN, a passividade do governo de Lemos Pires, bem como a execução fiel pelos majores Mota, Jónatas e outros oficiais da vontade do governo central de Lisboa em abandonar de qualquer maneira Timor; as ameaças constantes da invasão indonésia e a pressão exercida pelos próprios adeptos da UDT sobre os seus dirigentes, obrigaram-nos a pensar seriamente numa tomada de posição que conduzisse à paz e harmonia entre todos os timorenses, obrigasse Portugal a ficar o tempo julgado necessário pelos timorenses para uma preparação adequada ao exercício consciente do seu direito a autodeterminação e destruísse todos os pretextos da Indonésia para invadir Timor.”
Aliás, já desde o tempo anterior a 1974, se sabia que Timor exercia um terrível fascínio sobre o Poder indonésio que não se inibia de demonstrar publicamente o seu apetite pela meia ilha timorense. Por outro lado, a Indonésia, potência regional, contava com o apoio americano na luta contra o comunismo: era preciso refrear os ânimos e não lhe dar nenhuma hipótese de se lançar sobre Timor.
E se hoje é tão claro, tão lógico e tão absolutamente fundamental atentar-se nas relações de boa vizinhança com o nosso poderoso vizinho como forma de salvaguarda dos nossos interesses, levando-nos a enveredar por caminhos que não são totalmente do agrado popular em defesa da reconciliação independentemente da justiça, só mesmo os verdes anos da classe dirigente da FRETILIN podem servir de fundamentação para a falta de perspicácia no entendimento do ávido apetite indonésio por um qualquer rincão onde se vislumbrasse uma réstia de fervor comunista.
É ainda Domingos Oliveira que explica a percepção desse apetite imperialista sobre o território quando dois dirigentes da UDT se deslocaram em visita a Jacarta “onde na companhia do Presidente do Comité Central, Lopes da Cruz, se avistaram com o general Ali Moertopo a quem expressaram a total discordância da afirmação de Suharto de que Timor só tinha duas opções: integração na Indonésia ou ligação a Portugal e a firme determinação do seu partido fazer tudo para a independência”.
No dia 10 de Agosto, a UDT decidiu-se por “uma tomada de posição que envolvesse todos os timorenses para a paz e harmonia”. Em reunião com a Comissão de Descolonização foram definidos os objectivos e prestados todos os esclarecimentos sobre a natureza e o envolvimento de outras forças no Movimento que defendia a independência através de um processo adequado de descolonização, culminando num referendo.
No dia 11 o Movimento estava na rua. Sem apostar na independência imediata, “não era contra a administração portuguesa nem contra a FRETILIN, mas defendia a unidade do povo, com uma frente única que integraria todos os partidos independentistas, incluindo a FRETILIN, depois de expurgada dos seus elementos marxistas ou extremistas”.
Lemos Pires tentou mas nunca houve conversações com a FRETILIN que apresentou - no entender da UDT - uma série de condições inaceitáveis, ao mesmo tempo que se sucediam as cenas de violência, com assassinatos de elementos da UDT.
A 18 de Agosto os representantes do Movimento e sargentos timorenses emitiram um comunicado em que se apelava à unidade, se recusava o comunismo e se reiterava o objectivo da autodeterminação e independência, mas estava já em marcha o contra ataque da FRETILIN, com o apoio de alguns militares portugueses, dando-se início a uma luta fratricida de que resultaram milhares de mortos.
De entre os militares portugueses, sobressai o abandono de Timor à sua sorte com a fuga do governador para o Ataúro; dois militares tomaram o partido da UDT e, se ficaram de bem com a sua consciência, acabaram por pagar bem caro a sua escolha. O capitão Vasco Lino da Silva, comandante da companhia de Lospalos, engrossou o número de refugiados em Atambua. Foi marginalizado e a sua reintegração no exército português deu-se muitos anos depois do regresso a Lisboa. Menos sorte teve o tenente-coronel Maggiolo Gouveia, comandante da Polícia, levado para Aileu onde acabou por sucumbir aos maus tratos.
Muitos dos dirigentes da UDT foram impiedosamente castigados, chacinados por defenderem os seus ideais políticos como foi o caso de César Mouzinho, Vasco Senanes, António Araújo, Agapito Mariz e Fernando Luz.
Os prisioneiros políticos da UDT, KOTA, TRABALHISTA e APODETI, foram barbaramente torturados, massacrados, enterrados vivos em valas comuns em Aileu, Maubisse ou Same .
Os sobreviventes remetem-se ao silêncio e procuram conviver com os seus algozes.
Forçada a recuar para o território indonésio de Atambua, acompanhada por milhares de refugiados (tendo aí a APODETI aderido ao MAC – Movimento Anti-Comunista, formado pela UDT, o KOTA e o Partido Trabalhista) a UDT fez uma longa e dolorosa travessia no deserto, arrastando consigo o ónus da invasão e posterior ocupação estrangeira que, em boa verdade, lhe é alheia, antes pertence a quem entendeu ser possível implantar em Timor políticas de outras realidades diversas e a quem teve uma terrível falta de tolerância e respeito pelas opções políticas de cada um.
Um ponto controverso da passagem da UDT pela Indonésia tem a ver com a declaração de Balibó, assinada por alguns elementos da sua liderança. No entanto, talvez fosse um gesto de generosidade e de elementar justiça reconhecer-se que o documento foi assinado sob pressão, um bocado à semelhança do que aconteceu com Xanana Gusmão quando, após ter sido preso, proferiu o que não pretendia e todos entenderam dever-se à pressão militar indonésia.
A estruturação da sociedade timorense passa pelo adormecimento dos crimes, mas impõe-se que haja a consciencialização desses crimes. Só assim será possível construir solidamente a Nação timorense, só desta forma as vítimas sentirão a igualdade de direitos num Estado que se quer de direito."

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Um pouco por todo o Mundo onde há Udetistas, se recordou o Movimento de Onze de Agosto. O espírito desse dia histórico mantém-se vivo em todos nós que acreditamos e somos da UDT.

Transcrevemos as mensagens de dois Udetistas convictos.

De José Luís Valadares, de Darwin...

”Faz hoje 32 anos do Movimento de 11 de Agosto. Lembro me desse dia como se fosse hoje. Os acontecimentos actuais em Timor são idênticos aos de 32 anos atrás isto e a violência, as intimidações e os assassinatos a quem não tivesse do lado deles. A inactividade do governo da altura em nao manter a ordem e proteger os indefesos forçaram o aparecimento do 11 de Agosto. Para nos Udetistas e também um dia de reflexão sobre o partido.

Abraços a todos

José Luís”


... e de António José Pinto, de Cairns

“Caros amigos, sim foi esse dia que mudou o rumo de Timor para o principio da libertação e não aos usurpadores do poder, dos quais alguns ainda estão emTimor, a UDT pôs Timor nas paginas internacionais ao iniciar o Movimento. Vamos reflectir e rezar pelas almas dos nossos irmãos que foram assassinados em Aileu e outros lados, os quais o único pecado eram de ser filiados da UDT.

um abraço a todos

Toze Pinto”




2 comentários:

Anónimo disse...

Viva a UDT!

O que se passa hoje foi o mesmo que aconteceu em 1975! As mesmas artimanhas maliciosas e criminosas.

Ent˜åo acusou-se a UDT!

Agora a verdade está bem clara! Quem é o culpado agora?

Concordo com o que diz o Tozé Pinto! O Movimento do 11 de Agosto de 1975 foi necessário! Pena o mundo ter interpretado mal! Agora acordaram!

Viva a UDT!

Maria

Ema_Lulic disse...

Jeronimo e Rui Maher eram meus companheiros de infancia. O Jeronimo tinha 17 anos e o Rui 13 anos. Na noite em que a milicia da fretilin os foram tirar para os matar na ribeira de Aileu quiseram poupar o Rui e disseram para ele ficar. O Rui levantou se e disse " Eu vou para onde o meu irmao for". Rui e Jeronimo Maher foram barbaramente assassinados nessa Noite pela milicia da Fretilin.

Penso sempre nestes meus amigos e noutros que com eles perderam a vida.

Companheiro da Luta